quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Lia de Itamaracá

No ano de 2000 a gravadora Ciranda Records presenteou o público brasileiro com o disco “Eu sou Lia”, cujo repertório incluía coco de raiz, loas de maracatu e as famosas cirandas embaladas pela voz rascante de Lia de Itamaracá.

O disco simbolizou, à época, a redescoberta de Lia, a divulgação de um dos mais importantes repertórios de ciranda do Brasil.

Nascida no dia 12 de janeiro de 1944 na ilha de Itamaracá, Pernambuco, Maria Madalena Correia do Nascimento começou a participar de rodas de ciranda aos 12 anos de idade. E foi a única de 22 filhos a se dedicar à música. Como ela mesma gosta de dizer, trata-se “de um dom de Deus e uma graça de Iemanjá”. Mulher simples, com 1,80m de altura, Lia sempre ganhou a vida como merendeira de uma escola pública pernambucana, dedicando-se nas horas vagas à música e à ciranda, seu ritmo preferido.

Na década de 60, a compositora Teca Calazans pesquisava a cultura popular nordestina quando descobriu Lia e seu talento, acabaram fazendo alguns trabalhos em parceria, com o resgate de músicas de domínio público. De Lia, Teca Calazans gravou “Oh cirandeiro/ cirandeiro oh/ a pedra do teu anel brilha mais do que o sol”. A estes versos Teca incorporou uma toada informativa de Mestre Baracho que ajudou a fazer de Maria Madalena a cirandeira mais famosa do Nordeste brasileiro: “Esta ciranda quem me deu foi Lia/ que mora na ilha de Itamaracá”.

Em 1977, Lia gravou seu primeiro disco, intitulado “A rainha da ciranda”; porém recebeu apenas 20 exemplares para distribuição e nenhum centavo. Após duas décadas distante da mídia, a cantora foi levada pelo produtor musical Beto Hees a participar do festival Abril Pro Rock (1998), realizado em Recife e Olinda, onde fez grande sucesso e tornou-se conhecida em todo o Brasil.

O disco “Eu sou Lia” traz a força hipnótica de sua ciranda, acompanhada da percussão tipicamente pernambucana – tarol, surdo e ganzá –, além do saxofone de Bezerra, 82 anos, nos contracantos. No repertório, várias músicas de domínio público, com destaque para “Ajoelha, ajoelha” em que a improvisação da cantora presta homenagem a outras figuras da música nordestina, como Dona Selma e Mestre Salustiano. Isso sem falar da faixa de abertura, com “Eu sou Lia” (composição de Paulinho da Viola) e “Minha ciranda”, composição que mestre Capiba fez de presente para a cirandeira de Itamaracá.

Capiba presenteou Lia. E a cantora ofereceu a todos nós mais um motivo para juntar as mãos e entrar na roda.

Minha ciranda
Capiba


Minha ciranda não é minha só
Ela é de todos nós
A melodia principal quem
Guia é a primeira voz

Pra se dançar ciranda
Juntamos mão com mão
Formando uma roda
Cantando uma canção



O poeta, escritor e produtor cultural Hermínio Bello de Carvalho escreveu assim na apresentação do disco “Eu sou Lia”: “As cirandas pernambucanas de Lia estão na boca de toda a gente, na alegria das pessoas se dando as mãos, cirandando em volta dela”.

Em 2005 Lia de Itamaracá foi considerada Patrimônio Vivo da cultura de Pernambuco. Hoje com 66 anos, a cantora negra de voz rascante está em plena atividade e chega ao Rio de Janeiro para cantar com o grupo Zanzar. No palco, um repertório de cocos, cirandas e maracatus.


Fontes:

Danças Brasileiras
http://dancasbrasileiras.wikispaces.com/

Música de Pernambuco
http://www.musicadepernambuco.pe.gov.br/estilo.php?idEstilo=2

Instituto Machado de Assis (blog)
http://instituto-machadodeassis.blogspot.com/2009/02/patrimonio-vivo-de-pernambuco.html


postado por Breno Procópio

Nenhum comentário:

Postar um comentário